Afastamentos do Trabalho por Saúde Mental Crescem quase 83% no DF
O número de trabalhadores afastados por questões de saúde mental no Distrito Federal apresentou um aumento expressivo entre 2023 e 2024. Dados do Ministério da Previdência Social revelam que mais de 14 mil pessoas precisaram se licenciar de suas atividades profissionais em decorrência de transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão — um crescimento de 82,7% em relação ao ano anterior.
Os quadros de adoecimento mental têm múltiplas causas, mas especialistas destacam o impacto das transformações no mundo do trabalho após a pandemia da covid-19. Durante o período de isolamento social, muitas pessoas se adaptaram ao regime remoto, que proporcionava uma rotina mais flexível. No entanto, a volta ao trabalho presencial, muitas vezes sem um processo de acolhimento adequado, pode ter contribuído para o aumento dos casos de sofrimento psíquico.
Além disso, fatores característicos do mercado de trabalho no DF também agravam esse cenário. Diferenças nas condições de trabalho — entre concursados, terceirizados e pessoas jurídicas (PJ) — geram desigualdades e inseguranças que afetam diretamente o bem-estar emocional dos trabalhadores. No caso de profissionais PJ, por exemplo, não há garantias previstas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o que os torna ainda mais vulneráveis em situações de adoecimento.
Especialistas apontam que, além das mudanças estruturais no trabalho, questões como sobrecarga de tarefas, pressão por resultados, assédio e ausência de políticas de cuidado dentro das empresas são fatores que contribuem para o aumento dos afastamentos por transtornos mentais.
Ansiedade e depressão estão entre os principais motivos para os afastamentos, e os sintomas nem sempre são facilmente identificáveis. Por isso, o acompanhamento psicológico adequado e o suporte das empresas são fundamentais. O trabalhador com diagnóstico de transtorno mental pode se afastar legalmente por até 15 dias com atestado psicológico. Após esse período, o afastamento deve ser solicitado junto ao INSS, mediante perícia médica.
Além das garantias legais, especialistas reforçam a importância de um ambiente de trabalho saudável e livre de assédio, que acolha o trabalhador em momentos de vulnerabilidade. Empresas que investem em ações de bem-estar, programas de saúde mental, flexibilidade de horários e promoção de qualidade de vida têm um papel essencial na prevenção do adoecimento mental dos colaboradores.
Por outro lado, os trabalhadores devem estar atentos aos sinais de alerta — como esgotamento físico e emocional, insônia, perda de interesse por atividades habituais ou dificuldade em lidar com a rotina — e buscar ajuda profissional o quanto antes. Saúde mental é um tema que exige atenção contínua, cuidado especializado e um olhar mais humano sobre as relações de trabalho.