Técnica Inovadora do SUS para Tratar Miocardiopatia Chega a Portugal
Uma técnica desenvolvida no Brasil pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, vinculado ao SUS, para tratar a miocardiopatia hipertrófica, começou a ser utilizada também em Portugal, no Hospital Santa Marta, em Lisboa. O intercâmbio aconteceu em julho, após o procedimento mostrar vantagens como menor risco aos pacientes e redução no tempo de internação.
A miocardiopatia hipertrófica é uma doença de origem genética, caracterizada pelo espessamento e enrijecimento das paredes dos ventrículos, o que dificulta a circulação sanguínea. Os sintomas mais comuns incluem falta de ar, palpitações, dor no peito e, em alguns casos, desmaios. O tratamento tradicional envolve medicamentos como betabloqueadores ou procedimentos mais invasivos, como a miectomia, que consiste na retirada cirúrgica de parte do músculo cardíaco. Outra alternativa, menos invasiva, é a ablação septal alcoólica, em que se provoca um infarto químico controlado para reduzir a obstrução. No entanto, esse método apresenta limitações e não pode ser aplicado em todos os pacientes.
Diante desse cenário, médicos brasileiros adaptaram o uso de cateteres de radiofrequência, já empregados em tratamentos de arritmia, para atuar no músculo cardíaco espessado. A chamada ablação septal por radiofrequência funciona de forma semelhante à alcoolização, mas com maior precisão. Guiado por exames de imagem, o cateter libera calor diretamente no ponto necessário, permitindo ao médico controlar a intensidade e a área atingida. Isso garante um efeito mais seguro e focado, reduzindo complicações e ampliando a aplicabilidade do procedimento.
A técnica passou a ser utilizada no Brasil em 2017 e, desde então, tem se mostrado eficaz e segura em diferentes pacientes acompanhados pelo Instituto Dante Pazzanese. Embora ainda esteja no campo de pesquisa, já foi incorporada à diretriz brasileira para o tratamento da cardiomiopatia hipertrófica. Os resultados mostram que, após um ano, a maioria dos pacientes apresenta melhora significativa da capacidade física, com possibilidade de reduzir doses de medicação, embora não seja uma substituição completa do tratamento farmacológico.
O Hospital Santa Marta, referência em Portugal para essa doença, até então contava apenas com a ablação septal alcoólica como alternativa aos pacientes não elegíveis à cirurgia. A parceria permitiu que a equipe portuguesa aprendesse a nova técnica com os especialistas brasileiros, que acompanharam sua aplicação em três pacientes locais. Além disso, houve troca de experiências entre os centros, com os médicos portugueses também apresentando técnicas realizadas em Lisboa e ainda não disponíveis no SUS.
O objetivo agora é ampliar os estudos, consolidar a segurança da técnica e expandir sua utilização para outros centros internacionais, criando uma rede de cooperação médica que pode beneficiar pacientes em diferentes países.