FOMO e Alimentação: Quando o Medo de Ficar de Fora Afeta Nossas Escolhas
Você já sentiu que “precisava” aceitar um convite para jantar, pedir sobremesa ou abrir uma garrafa de vinho, mesmo sem muita vontade, só porque todo mundo estava fazendo? Esse é o FOMO, ou Fear of Missing Out (“medo de ficar de fora”), um fenômeno cada vez mais presente nas nossas relações com a comida e com o corpo.
O que é o FOMO
O FOMO nasce de uma sensação de escassez emocional — a ideia de que, se eu não participar agora, vou perder algo importante. No contexto das redes sociais, é o medo de não estar por dentro, de não compartilhar os mesmos momentos, de não fazer parte. Mas o mesmo mecanismo se aplica à alimentação: é o medo de “ficar de fora” da experiência coletiva ou do prazer imediato que a comida representa.
Como o FOMO aparece na alimentação
No consultório, ele se manifesta em situações muito comuns:
• “Comi porque todo mundo estava comendo.”
• “Não quis parecer chata recusando a sobremesa.”
• “Saí da dieta no fim de semana porque estava com amigos e não queria me sentir diferente.”
• “Postei o brunch no domingo porque todo mundo estava postando.”
Esses comportamentos são reflexos de uma relação emocional com a comida mediada pela comparação social — e não pelas reais necessidades do corpo.
O impacto comportamental
O FOMO ativa um estado de alerta interno: medo de exclusão, de rejeição e de não pertencer. Esse estado emocional nos distancia da alimentação intuitiva e consciente, já que as decisões passam a ser guiadas por estímulos externos (o que os outros fazem) e não por sinais internos (fome, saciedade, vontade genuína).
Além disso, o FOMO alimenta um ciclo de culpa e compensação: depois de comer por impulso social, vem o arrependimento, a autocrítica e, muitas vezes, a tentativa de “compensar” no dia seguinte com restrição.
Esse vai-e-volta desgasta emocionalmente e enfraquece o vínculo de confiança com o próprio corpo.
As redes sociais e a comparação constante
Vivemos imersos em conteúdos de comida, corpos e estilos de vida idealizados. Isso cria uma sensação de que “todo mundo está vivendo mais, comendo melhor, se divertindo mais” — e nos coloca numa busca por pertencimento via consumo (de alimentos, de experiências, de padrões). É aí que o FOMO se mistura à pressão estética e à cultura da performance: comer “para mostrar”, e não para nutrir.
Cultivando o JOMO — Joy of Missing Out
Uma alternativa saudável é desenvolver o JOMO (Joy of Missing Out) — a alegria de não participar de tudo. Na alimentação, isso significa se permitir ficar de fora sem sentir que está perdendo. É escolher com consciência, honrar o momento presente e entender que nem toda oportunidade de comer precisa ser aproveitada.
Alguns passos práticos:
1. Pausar antes de comer – Pergunte-se: “Estou com fome mesmo ou com medo de ficar de fora?”
2. Observar os gatilhos sociais – Perceba com quem e onde esse comportamento mais aparece.
3. Praticar Mindful Eating – Comer com presença, sentindo texturas, sabores, aromas, e percebendo o que o corpo pede.
4. Cultivar o prazer interno – Aprender que o prazer não está apenas no ato de comer, mas também em respeitar o próprio limite.
5. Aceitar o descanso social – Dizer “não” a um convite ou comida não é rejeitar o outro — é acolher a si mesma.
O FOMO na alimentação não é sobre comida — é sobre pertencimento, aceitação e comparação.
Reconhecer esse padrão é o primeiro passo para quebrar o ciclo e construir uma relação mais livre, presente e gentil com o próprio corpo. Quando o medo de perder dá lugar à alegria de escolher, a comida volta ao seu verdadeiro papel: nutrir, acolher e conectar, e não preencher o vazio da comparação.
