Alimentação

Estudo: Mudanças Climáticas Comprometem o Valor Nutricional dos Alimentos

As mudanças climáticas não afetam apenas o clima e os ecossistemas — elas também estão impactando diretamente a qualidade nutricional dos alimentos. Um estudo recente apresentado na Conferência Anual da Sociedade de Biologia Experimental, realizada em 8 de julho em Antuérpia, na Bélgica, revelou que a elevação dos níveis de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera, combinada com o aumento das temperaturas, pode comprometer significativamente o valor nutricional das culturas agrícolas, trazendo consequências sérias para a saúde humana.

A pesquisa, liderada por Jiata Ugwah Ekele, doutoranda na Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, examinou como essas mudanças afetam o desenvolvimento de vegetais folhosos amplamente consumidos, como rúcula, espinafre e couve. Segundo Ekele, o processo de fotossíntese, o crescimento das folhas e a produção e o armazenamento de nutrientes são profundamente alterados sob condições climáticas mais extremas. “Compreender esses impactos é fundamental, pois somos o que comemos, e as plantas representam a base da nossa cadeia alimentar como produtoras primárias dos ecossistemas”, afirma a pesquisadora.

O estudo foi conduzido em câmaras de crescimento com controle ambiental, onde os pesquisadores simularam cenários climáticos futuros previstos para o Reino Unido. Durante o cultivo, foram analisados marcadores fotossintéticos como a fluorescência da clorofila e o rendimento quântico, enquanto dados sobre biomassa e produtividade foram registrados no momento da colheita. Após o cultivo em condições alteradas, as plantas foram submetidas a análises de alta precisão — incluindo cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e perfil de fluorescência de raios X — para medir as concentrações de açúcares, proteínas, compostos fenólicos, flavonoides, vitaminas e antioxidantes.

Os resultados preliminares indicam que, embora níveis elevados de CO₂ possam acelerar o crescimento das plantas e aumentar o volume da produção, isso não se traduz necessariamente em alimentos mais saudáveis. Pelo contrário: “Observamos uma redução significativa em minerais essenciais, como o cálcio, bem como em determinados antioxidantes”, explica Ekele. Essa alteração no equilíbrio nutricional pode ter implicações preocupantes. O aumento do teor de açúcares, por exemplo, pode coincidir com uma diluição de proteínas, vitaminas e minerais fundamentais — resultando em dietas mais calóricas, porém com menor densidade nutricional.

Essa mudança na composição dos alimentos pode agravar quadros de obesidade e diabetes tipo 2, especialmente em populações que já enfrentam altos índices de doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, a carência de nutrientes vitais, como proteínas e vitaminas, pode enfraquecer o sistema imunológico e intensificar vulnerabilidades à saúde.

Embora o foco da pesquisa esteja nas projeções climáticas para o Reino Unido, os seus desdobramentos são de alcance global. Segundo Ekele, os sistemas alimentares do Norte Global já enfrentam desafios crescentes com a instabilidade das estações agrícolas e o aumento das ondas de calor. Em regiões tropicais e subtropicais, o cenário é ainda mais crítico, com a sobreposição de fatores como secas prolongadas, proliferação de pragas e degradação do solo — contextos que afetam diretamente milhões de pessoas que dependem da agricultura tanto para alimentação quanto para subsistência econômica.

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