Mudanças Climáticas Podem Aumentar a Exposição a Fatores de Risco ao Câncer
As mudanças climáticas não afetam apenas o clima, a biodiversidade e a segurança alimentar, mas também têm implicações diretas na saúde humana. Um aspecto preocupante é o impacto que essas alterações podem ter na incidência de câncer. De acordo com estudos recentes, as mudanças climáticas podem aumentar a exposição a vários fatores de risco associados ao desenvolvimento do câncer, agravando ainda mais os desafios de saúde pública.
- Exposição ao Calor Extremo
O aumento das temperaturas médias globais tem levado a períodos mais longos de ondas de calor, que podem afetar diretamente a saúde. A exposição prolongada ao calor extremo está relacionada a um aumento no risco de desidratação, estresse térmico e problemas cardiovasculares. Além disso, estudos sugerem que a exposição ao calor também pode intensificar a incidência de cânceres de pele, uma vez que a radiação ultravioleta (UV) aumenta durante os períodos mais quentes. A exposição excessiva ao sol sem proteção adequada é uma das principais causas do câncer de pele não melanoma, que inclui os tipos basocelular e espinocelular.
- Alterações na Qualidade do Ar
As mudanças climáticas têm contribuído para o aumento de poluentes atmosféricos, como o dióxido de nitrogênio e partículas finas, que são emitidos principalmente por veículos e indústrias. A poluição do ar é um conhecido fator de risco para diversos tipos de câncer, incluindo os cânceres de pulmão, bexiga e mama. O aumento das temperaturas também favorece a formação de ozônio, um poluente atmosférico que pode irritar as vias respiratórias e aumentar o risco de câncer.
- Impacto nas Colheitas e na Alimentação
A mudança nos padrões climáticos também afeta a produção agrícola, o que pode impactar a qualidade e a segurança alimentar. O aumento de pragas e doenças, associado às mudanças climáticas, pode aumentar o uso de pesticidas e herbicidas em algumas regiões. A exposição prolongada a essas substâncias químicas está relacionada ao risco de cânceres, como os de fígado, mama e linfoma. Além disso, a insegurança alimentar resultante das mudanças climáticas pode levar as populações a consumir dietas desequilibradas, com baixo consumo de alimentos antioxidantes e ricos em fibras, aumentando assim o risco de cânceres intestinais.
- Alterações nos Padrões de Doenças Infecciosas
Com a elevação das temperaturas, algumas doenças infecciosas que contribuem para o câncer, como o vírus da hepatite B e C, e o vírus do papiloma humano (HPV), podem se espalhar mais rapidamente. Esses vírus estão diretamente relacionados a cânceres de fígado, colo do útero, garganta e pênis. O aumento da disseminação dessas infecções devido às mudanças climáticas pode, portanto, aumentar a carga de câncer em populações vulneráveis.
- Deslocamento de Populações e Desastres Naturais
Outro fator de risco relacionado às mudanças climáticas é o aumento da migração forçada devido a desastres naturais, como inundações, tempestades e incêndios florestais. O deslocamento de grandes populações pode resultar em condições de vida precárias, estresse emocional e, consequentemente, maior exposição a fatores de risco como tabagismo, alimentação inadequada e falta de acesso a cuidados médicos. Além disso, os desastres naturais podem prejudicar a infraestrutura de saúde, dificultando o diagnóstico precoce e o tratamento adequado do câncer.
- Desinformação sobre Câncer nas Redes Sociais
No Dia Mundial do Câncer, celebrado em 4 de fevereiro, pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (INCA) alertaram para o grande fluxo de desinformações sobre a doença que circulam em redes sociais. Um artigo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia destaca os riscos de uma “infodemia” do câncer, caracterizada pela disseminação rápida e ampla de informações falsas sobre a enfermidade. Essas desinformações incluem mitos sobre as causas do câncer, tratamentos não comprovados e medidas preventivas sem base científica. A propagação de tais informações pode atrasar diagnósticos e tratamentos, colocando em risco a saúde dos indivíduos. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de monitoramento constante dessas informações e de respostas rápidas e eficazes para que a sociedade possa distinguir entre informações verdadeiras e falsas.
As mudanças climáticas representam um desafio crescente para a saúde pública e têm o potencial de aumentar significativamente a exposição a fatores de risco associados ao câncer. É fundamental que políticas públicas de saúde integrem a questão climática, promovendo a mitigação e adaptação para reduzir esses impactos. A conscientização sobre os riscos e a promoção de comportamentos saudáveis, como o uso de protetor solar, a redução da exposição à poluição do ar e a adoção de uma dieta equilibrada, podem ser passos importantes para minimizar os efeitos adversos das mudanças climáticas na saúde humana.
Além disso, é essencial combater a desinformação sobre o câncer, especialmente nas redes sociais, para garantir que a população tenha acesso a informações precisas e baseadas em evidências científicas. A colaboração entre instituições de saúde, governos e sociedade civil é crucial para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela disseminação de informações falsas sobre o câncer.