Saúde

Câncer Infantil: HCB Comemora 80% de Cura em Leucemias

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No Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, o Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) aproveitou para divulgar um dado que muda o horizonte de muitas famílias: a taxa de cura das leucemias tratadas na unidade chega a cerca de 80%.

Data simbólica e papel do HCB

O dia 23 de novembro é dedicado, em todo o Brasil, à conscientização sobre o câncer infantil. Em Brasília, a data tem um peso a mais: coincide com o aniversário do HCB, criado em parceria com a associação Abrace e estruturado desde o início para ser referência em oncologia pediátrica. Hoje, o hospital é a única Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) exclusiva para crianças e adolescentes no Distrito Federal.

Nos últimos sete anos, a instituição recebeu, em média, mais de 200 novos casos de câncer infantil por ano – um fluxo constante que mostra a dimensão do problema e, ao mesmo tempo, a importância de ter um centro especializado preparado para acolher essas famílias.

Quais são os cânceres infantis mais comuns?

No HCB, quase metade dos diagnósticos pediátricos de câncer vem das chamadas neoplasias do sistema hematopoiético (como as leucemias), que somam cerca de 43% dos casos. Em seguida aparecem os tumores cerebrais (19%), os neuroblastomas (8%), os sarcomas de partes moles (7%), o tumor de Wilms – que acomete o rim (6%), os tumores ósseos (5%) e o retinoblastoma, que atinge os olhos (3%).

Esse perfil local acompanha o cenário nacional, em que as leucemias são o tipo de câncer mais frequente na infância e adolescência, frequentemente descritas em boletins do INCA e de secretarias estaduais de saúde como responsáveis por grande parte dos casos de câncer infantojuvenil.

Diagnóstico precoce: o ponto que muda tudo

Ao contrário de muitos cânceres em adultos, no câncer infantil praticamente não há medidas de prevenção clássica (como rastreamentos de rotina). O grande diferencial é a rapidez com que os sinais são percebidos e a criança encaminhada a um serviço de referência.

Entre os sintomas que acendem o alerta estão infecções que se repetem com frequência, manchas roxas sem causa aparente, sangramentos na gengiva, palidez intensa, febre prolongada e cansaço fora do comum. Quando esses sinais chegam às unidades básicas de saúde, UPAs ou hospitais regionais do DF, a criança pode ser regulada pela Secretaria de Saúde para avaliação no HCB, onde há equipe e exames específicos para investigação oncológica.

No Brasil, órgãos oficiais de saúde estimam que, quando o câncer infantil é diagnosticado cedo e tratado em centros especializados, a chance global de cura pode alcançar cerca de 80%, especialmente em leucemias linfoblásticas agudas. É exatamente esse patamar que o HCB relata ter alcançado em seus tratamentos de leucemia, reforçando o impacto de um atendimento organizado e baseado em evidências.

Tecnologia e ciência a serviço das crianças

Além de chegar cedo ao diagnóstico, é preciso chegar ao diagnóstico certo. Para isso, o HCB utiliza exames em nível molecular capazes de identificar o subtipo específico de leucemia de cada criança, feitos em laboratório próprio de pesquisa translacional. Esses testes refinam o enquadramento da doença e ajudam a definir esquemas de tratamento mais adequados, individualizados, reduzindo tanto riscos quanto falhas terapêuticas.

A rotina da unidade mostra o volume e a complexidade do trabalho: só em 2024, o hospital admitiu mais de 220 pacientes com câncer, realizou mais de 15 mil consultas onco-hematológicas, milhares de sessões de quimioterapia e dezenas de milhares de atendimentos complementares – como fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, psicologia e outros procedimentos especializados, incluindo transfusões e diálise.

Tudo isso é sustentado por uma estrutura pensada para alta complexidade: leitos de internação oncológica, leitos exclusivos para transplante de medula óssea, dezenas de vagas de UTI pediátrica, centro cirúrgico equipado para cirurgias de grande porte e laboratórios altamente especializados em citogenética, imunofenotipagem e biologia molecular.

Formação de profissionais e rede de parcerias

O HCB não atua isolado. O hospital promove capacitações contínuas com pediatras e outros profissionais da rede pública – das UBS às UPAs e hospitais regionais – para que eles se familiarizem com os sinais que podem indicar câncer e não confundam esses sintomas com “viroses comuns da infância”.

A equipe também mantém parcerias com dezenas de instituições nacionais e internacionais, entre elas centros de referência em oncologia pediátrica e organizações voltadas à pesquisa em câncer infantil. Essas alianças permitem acesso a protocolos modernos de tratamento, intercâmbio científico e participação em estudos que acompanham tendências mundiais, como o uso crescente de terapias alvo e imunoterapias – caso das terapias celulares do tipo CAR-T, que vêm mostrando resultados expressivos em leucemia infantil em países como Espanha.

Cuidado humanizado: tratar o câncer sem apagar a infância

Um ponto forte do HCB é o esforço para garantir que, mesmo em meio à quimioterapia, internações prolongadas e procedimentos invasivos, a criança continue sendo criança. A instituição oferece brinquedotecas no ambulatório e na internação; quando há necessidade de isolamento, o brincar é adaptado, com brinquedos levados ao leito e horários organizados.

Passeios em carrinhos elétricos pelos corredores, atividades de leitura, música, artes, interação com voluntários e apresentações culturais entram como parte da rotina de cuidado, aliviando o peso emocional dos tratamentos. Em paralelo, a Classe Hospitalar – fruto de convênios com as secretarias de Saúde e Educação – e o apoio pedagógico para pacientes de outros estados ajudam a manter o vínculo com a escola e a evitar rupturas bruscas na trajetória educacional das crianças e adolescentes.

Por que essa notícia importa?

O anúncio de uma taxa de cura em torno de 80% nas leucemias tratadas no Hospital da Criança de Brasília não é apenas um número técnico: ele mostra que, quando há rede organizada, diagnóstico rápido, equipe qualificada, infraestrutura adequada e cuidado humanizado, o câncer infantil deixa de ser sinônimo de destino fatal e passa a ser uma doença com grandes chances de tratamento bem-sucedido.

Ao mesmo tempo, esses dados reforçam a responsabilidade compartilhada entre Estado, profissionais de saúde, escolas e famílias: é fundamental que pais e cuidadores estejam atentos a sinais persistentes, que pediatras tenham suporte para suspeitar precocemente de câncer e encaminhar aos centros de referência, e que políticas públicas sustentem hospitais como o HCB – nos quais ciência, afeto e estrutura se combinam para devolver às crianças algo muito simples e, ao mesmo tempo, imenso: a possibilidade de seguir crescendo.

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