Morte de Maguila Traz Luz Sobre Encefalopatia Traumática Crônica e Demência Pugilística
Na última quinta-feira (24), o Brasil perdeu um dos grandes nomes do boxe, Adilson Rodrigues, mais conhecido como Maguila, aos 66 anos. O ex-lutador, ícone do esporte nos anos 80 e 90, sofria de Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), uma doença neurodegenerativa comumente associada a atletas de esportes de contato. A condição também é conhecida popularmente como “demência pugilística”, em referência aos lutadores que, ao longo dos anos, acumulam traumas na cabeça.
A ETC é uma patologia causada por repetidos impactos na cabeça, afetando boxeadores, jogadores de futebol americano e praticantes de outras modalidades onde traumas cranianos são recorrentes. Em Maguila, os sintomas começaram a se manifestar de forma mais evidente em 2010, quando ele foi diagnosticado e afastado da vida pública. Desde então, ele enfrentou uma longa batalha, lidando com problemas de memória, distúrbios cognitivos e de comportamento, além de dificuldades motoras.
O que é a Encefalopatia Traumática Crônica?
A ETC é caracterizada por uma degeneração cerebral progressiva, causada por lesões repetidas ao longo de muitos anos. Estudos indicam que o acúmulo de microtraumas provoca a formação de proteínas anormais no cérebro, levando à morte de células nervosas e, consequentemente, ao comprometimento de funções cerebrais essenciais. Maguila, que construiu uma carreira com mais de 85 lutas, incluindo 77 vitórias, foi vítima dos impactos repetitivos que marcaram sua trajetória.
Com o avanço da doença, sintomas como perda de memória, dificuldades de raciocínio, depressão e comportamento agressivo começaram a se manifestar. De acordo com especialistas, o diagnóstico definitivo só é possível após a morte, por meio de análises detalhadas do tecido cerebral. Contudo, os sinais apresentados por Maguila ao longo dos últimos anos são considerados característicos da demência pugilística, um termo utilizado para descrever a forma mais grave da ETC entre pugilistas.
Maguila e o legado no esporte
Maguila foi um dos grandes campeões do boxe brasileiro, com conquistas expressivas como o título de campeão sul-americano dos pesos-pesados. Seu estilo aguerrido e carisma o tornaram um ídolo popular, transcendo as fronteiras do ringue. Aposentado desde 2000, ele passou os últimos anos em uma clínica de reabilitação em São Paulo, recebendo cuidados especializados.
O falecimento de Maguila não só marca o fim de uma era para o boxe brasileiro, mas também reforça a importância de se discutir os riscos e as sequelas de esportes de alto impacto. A ETC e a demência pugilística, até então pouco faladas no Brasil, ganham maior visibilidade, trazendo à tona a necessidade de um olhar mais cuidadoso sobre a saúde dos atletas e a adoção de medidas preventivas para evitar que futuros campeões sofram com as mesmas consequências.
Conscientização e prevenção
A morte de Maguila reacende o debate sobre a segurança e os cuidados no esporte. Profissionais de saúde e entidades esportivas vêm discutindo medidas para prevenir e identificar precocemente sinais de lesões cerebrais em atletas. Entre as sugestões, estão o uso de tecnologias para monitoramento de impactos e a realização de exames neurológicos regulares em atletas de esportes de contato.
A história de Maguila é um alerta para a importância da conscientização sobre a Encefalopatia Traumática Crônica e os riscos associados ao boxe e outras modalidades de alto impacto. O legado de luta e resistência deixado por ele, agora, também se transforma em um símbolo da necessidade de se preservar a saúde de atletas e ex-atletas, garantindo que as glórias conquistadas no esporte não se transformem em sofrimento na vida pós-carreira.
Maguila, que foi um ícone do esporte nacional, parte deixando um recado claro: a saúde dos atletas deve ser prioridade. E sua história serve como um chamado para que o boxe e outros esportes de contato avancem na prevenção e na proteção de seus praticantes.